domingo, 6 de junho de 2010

Multiforme – Paulo César Baruk

O novo lançamento de Paulo César Baruk tem o sotaque da maturidade do cantor/produtor.

Um repertório versátil, informado das novas tendências e ao mesmo tempo com todo o peso da tradição da música Gospel na bagagem. Logo na primeira faixa temos uma pequena amostra dos dotes vocais e de arranjador de Paulo César Baruk. Sozinho, soa como um Côro Gospel de estirpe inteiro. Até a metade do disco prevalece um cantor altamente técnico e inspirado com um pé na Black music sem frescura. Nada de virtuosismo vazio…

O número de músicos envolvidos no álbum ilustra uma tendência salutar do cantor em não retringir-se a guetos, mas envolver quem quer que possa contribuir com uma pegada particular para a sonoridade desejada para cada faixa. Destaco o solo de Cacau Santos no final da faixa “Glória”. Na primeira audição tive a impressão de ouvir Carlos Santana. A primeira metade do disco tem o ápice na fixa “Somente Deus” e o timbre cavernoso dos vocais (quando Kirk Franklin ouvir dirá “Amém”…) e no artesanato belíssimo de “Reina” com a espertíssima sobreposição de todos os temas na última exposição do refrão. Acompanhando a gravação do denominado Coral de Amigos pude ver o clima de absoluta getileza e bom-humor que deve ser marca das sessões do produtor além de um detalhe um pouco mais impressionante: a criatividade espontânea do produtor vocal Paulo César Baruk, fechando os olhos e acessando de memória as linhas corais, ensinando-as e gravando take após take, extraindo uma energia fantástica de seus amigos presentes. A música de trabalho “Meu Querer” (parece que podemos esperar um vídeo-clipe desta faixa em breve!) antecipa os elementos de pop-rock da segunda metade do Multiforme. Se há alguma ressalva ser feita é a ausência de uma pegada mais rapper na faixa 2 “Filho de Deus”. Toda vez que a ouço imagino um re-mix ainda mais “Black Eyed Peas” com um rimador à lá Pregador Luo entrando e rasgando a meia!

Da oitava faixa em diante o nome Multiforme faz ainda mais sentido. A regravação da composição de Thiago Grulha “Deus Está” com muitos violões e um bandolin já dão uma pitada de brasileridade bastante pronunciada para o disco. Mesmo a pegada blueseira antes do fim da música orna e orna muito com a atuação vocal dos convidados Samuel Mizrahy, Hygor Juker e Ton Carfi. Os refrões mais empolgantes e “chicletísticos” estão nesta segunda metade do disco. “Graça” e “O Nome de Jesus” são canções daquelas que se ouve uma vez e jamais se esquece. O dueto Baruk e Leonardo Gonçalves é de tirar o fôlego de quem tenha alguma idéia da dificuldade de se executar o que esses dois podem executar vocalmente. Têm-se a impressão de estar numa sala do lado do piano executado pelo próprio Baruk na faixa “Eu Corro Para Ti”. Faixa singela e por isso mesmo marcante. “Tua Presença” tenta sanar um dos defeitos de um disco com tantos convidados: a ausência de vozes femininas. Imagino que se Baruk pudesse ter um disco com todos os convidados que gostaria, teríamos o primeiro álbum quádruplo da história do Gospel Nacional, mas a cantora Daniela Araújo, num final de faixa mostra porque é atualmente a melhor profissional do Gospel Nacional. Sua precisão, bom gosto, timbre e fraseado são impressionantes, e esperar seu disco solo é uma das minhas maiores fontes de ansiedades deste ano. Poucas vozes femininas, mas ao menos a que aparece no disco é esta, logo, ponto negativo e ponto positivo ao mesmo tempo! Nesta faixa temos também uma outra presença digna de menção: Samuel Silva ao “rodhes” (infelizmente o nome do mítico instrumento da Fender apareceu escrito assim… Como trabalho constantemente com edições de partituras, sei que estes pequenos erros se escondem até que pululam na nossa frente depois do lançamento!) Samuel Silva quando quer passa por Cézar Xamargo Mariano e acho que esse elogio basta…

Gran Finale: “Flores em Vida” é um show a parte do talentozíssimo Alexandre Malaquias com um arranjo de cordas grandioso na medida certa! Lembrei de gravações antológicas da MPB na frase que Baruk dobra com os violinos no meio da faixa. O disco fecha com a “Em Nome da Justiça” e seu efeito de tirar o fôlego. Gravação gorda e magnífica mostrando que o Gospel conheceu o mangue-beat e os novos “finos da bossa” da música brasileira. Além de pregar contra algumas alienações insistentes na cena “evangeliquete” brasileira.

Do ponto de vista técnico o álbum chega a ser impecável com relação aos timbres, arranjos e arranjadores, mixadores e a mão poderosa de Luciano Vassão na masterização. A concepção da arte do CD está muito divertida também, e as escorregadas de revisão não atrapalham tanto: o já mencionado “rodhes”, a falta do título lateral na faixa 14 (graças a Deus o crédito do compositor apareceu…), os “bem intensionados” com “s” no texto com algumas reflexões do Baruk. Texto aliás que pesa um pouco no encarte. Baruk já diz tudo o que está escrito ali com sua postura sem frescura e sem evangeliquês irritante, mas dá pra entender sua motivação: nos últimos anos, bons entendedores estão escassos…

A afirmação da bonus-track sintetiza a mensagem do disco: “O Senhor é Bom”! E Ele é mesmo: até nos brindou com o talento do Baruk! TJMM, mano Baruk!

"Essa foi a análise perfeita sobre o álbum, não conseguiria chegar nem a métade do que por ele fora apresentado. Assim reintero que esse CD é um marco na minha vida, está sensacional!"

Fonte: http://jonaspaulo.wordpress.com/2010/05/04/multiforme-paulo-cesar-baruk/
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