domingo, 29 de julho de 2012

A ordem no culto.


Os cultos bizarros que temos assistido em nossas igrejas e que podem ser vistos através de vídeos, numa simples busca no Youtube, constituem terríveis distorções do verdadeiro pentecostalismo. São verdadeiros fenômenos de histeria coletiva, com pessoas gritando, pulando, jogando-se ao chão e contorcendo o corpo com terríveis expressões faciais. Parecem cenas de filme de terror. Eu mesmo já tive de sair correndo de vários cultos como esses para não ser atingido pelo braço ou perna de um crente rodopiante.


Objetivando refutar essa forma de pentecostalismo, inicio hoje um pequeno estudo sobre a ordem no culto, baseado em 1 Coríntios 14.

A maioria dos crentes coríntios já tinham tido contato com religiões pagãs, antes de se converterem. Muitos deles tinham trazido para a igreja hábitos que tinham adquirido, enquanto adeptos dessas religiões, principalmente das chamadas religiões de mistério, em cujo culto os adoradores buscavam atingir momentos de êxtase,  isto é, contatos místicos com a divindade.

Esses hábitos do passado, somados a uma certa imaturidade espiritual, levaram os coríntios a abusar da manifestação dos dons espirituais, concedidos verdadeiramente pelo Espírito Santo de Deus. A emoção sobrepujava a razão, impedindo que eles desfrutassem corretamente do dom divino.  Nos cultos imperavam, soberanos,  o tumulto e a desordem.

Foi para corrigir essa situação, que Paulo deu valiosas instruções com o fim de ajudar os cristãos de Corinto a oferecer a Deus o verdadeiro culto racional, um culto com ordem e decência.

I - Princípio norteador para a participação dos crentes no culto: "Seja tudo feito para edificação"

Que fazer, pois, irmãos? Quando vos reunis, um tem salmo, outro, doutrina, este traz revelação, aquele, outra língua, e ainda outro, interpretação. Seja tudo feito para edificação. (1 Coríntios 14:26)

A manifestação do Espírito é concedida a cada um visando a um fim proveitoso (I Coríntios 12:7)

Mas o que profetiza fala aos homens, edificando, exortando e consolando.  O que fala em outra língua a si mesmo se edifica, mas o que profetiza edifica a igreja. Eu quisera que vós todos falásseis em outras línguas; muito mais, porém, que profetizásseis; pois quem profetiza é superior ao que fala em outras línguas, salvo se as interpretar, para que a igreja receba edificação.  (I Coríntios 14:3-5)

Assim, também vós, visto que desejais dons espirituais, procurai progredir, para a edificação da igreja.  I Coríntios 14:12

A palavra chave para a participação do cristão no culto é "edificação". O corpo de crentes é comparado a um edifício em construção, no qual todos os operários envolvidos devem agir tendo em vista um propósito comum. A primeira pergunta que um cristão deve fazer, antes de exercer seus dons espirituais no culto é a seguinte: "isso vai edificar minha igreja?" ou "a minha participação vai colaborar para o crescimento espiritual dos meus irmãos?" Muitos cristãos de Corinto não tinham essa consciência, quando participavam do culto, e o resultado é que a participação irresponsável deles gerava mais transtornos do que benefícios para a igreja. Muitos cristãos têm sido os responsáveis por inúmeros escândalos em nossas igrejas justamente por desobedecerem esse princípio tão valioso. São cristãos imaturos, infantis, que perdem a oportunidade de ficarem calados e acabam dizendo ou fazendo coisas em nossos cultos que acabam destruindo vidas de outras pessoas.

II- Normas para o dom de línguas estranhas

"13 Pelo que, o que fala em outra língua deve orar para que a possa interpretar.  14 Porque, se eu orar em outra língua, o meu espírito ora de fato, mas a minha mente fica infrutífera.  15 Que farei, pois? Orarei com o espírito, mas também orarei com a mente; cantarei com o espírito, mas também cantarei com a mente.  16 E, se tu bendisseres apenas em espírito, como dirá o indouto o amém depois da tua ação de graças? Visto que não entende o que dizes;  17 porque tu, de fato, dás bem as graças, mas o outro não é edificado.  18 Dou graças a Deus, porque falo em outras línguas mais do que todos vós.  19 Contudo, prefiro falar na igreja cinco palavras com o meu entendimento, para instruir outros, a falar dez mil palavras em outra língua.  20 Irmãos, não sejais meninos no juízo; na malícia, sim, sede crianças; quanto ao juízo, sede homens amadurecidos.  21 Na lei está escrito: Falarei a este povo por homens de outras línguas e por lábios de outros povos, e nem assim me ouvirão, diz o Senhor.  22 De sorte que as línguas constituem um sinal não para os crentes, mas para os incrédulos; mas a profecia não é para os incrédulos, e sim para os que crêem.  23 Se, pois, toda a igreja se reunir no mesmo lugar, e todos se puserem a falar em outras línguas, no caso de entrarem indoutos ou incrédulos, não dirão, porventura, que estais loucos?"   (1 Coríntios 14:13-23)


[Pelo que, o que fala em outra língua deve orar para que a possa interpretar] Parece que o dom de falar línguas e de interpretá-las dificilmente era achado em uma só pessoa. Geralmente um falava línguas estranhas e outro interpretava. Mas o apóstolo orienta os cristãos para que busquem a Deus em oração, com o objetivo de manifestar a operação desses dois dons simultaneamente. É cada vez mais raro, hoje em dia, presenciar a interpretação de línguas em nossos cultos. É lindo quando isso acontece!

[Porque, se eu orar em outra língua, o meu espírito ora de fato, mas a minha mente fica infrutífera.  15 Que farei, pois? Orarei com o espírito, mas também orarei com a mente; cantarei com o espírito, mas também cantarei com a mente.] Para Paulo a adoração cristã tem um aspecto, não só espiritual, mas também racional. A mensagem celestial tem de influenciar, não só o coração do cristão, mas também a sua mente. Certamente, seríamos grandemente edificados, caso o Senhor concedesse à Igreja o acesso ao significado das palavras celestiais que são emitidas através das línguas estranhas, pois são declarações vindas das profundezas de Deus. Como a racionalidade tem sido desprezada atualmente pelos cristãos, e como o emocionalismo tem sido exaltado! Qualquer apelo para a reflexão, para a análise crítica, é taxada como coisa de carnal.  Já fui em cultos onde um determinado irmão ou irmã fica falando linguas estranhas durante dez ou quinze minutos e a igreja fica acompanhado, calada, extasiada. Depois que termina fica a pergunta: qual foi o propósito desse discurso espiritual? Ora, o propósito foi edificar apenas o espírito de quem falou e nada mais. Para igreja foi perda de um tempo precioso do culto.

[E, se tu bendisseres apenas em espírito, como dirá o indouto o amém depois da tua ação de graças? Visto que não entende o que dizes;  17 porque tu, de fato, dás bem as graças, mas o outro não é edificado.] Paulo, mais uma vez, ressalta a necessidade da edificação recíproca no culto cristão. Não aproveitará em nada ao meu irmão ficar ouvindo eu falar em línguas estranhas, visto que esse fenômeno diz respeito somente a comunhão íntima que tenho com Deus. "Pois quem fala em outra língua não fala a homens, senão a Deus, visto que ninguém o entende, e em espírito fala mistérios.(I Cor 14:2) Em outro lugar, também diz: "O que fala em outra língua a si mesmo se edifica" (I Cor 14:4) Cada irmão deve ter como alvo o crescimento espiritual do próximo e não exclusivamente o seu. A busca pela interpretação das línguas estranhas reflete a manifestação genuína do amor cristão, pois amar também é compartilhar aquilo que temos de melhor. Infelizmente, o que mais se vê hoje nas igrejas, são cristãos demonstrando "dons espirituais" com o fim de se exibir ou de se promover.

[Dou graças a Deus, porque falo em outras línguas mais do que todos vós.  19 Contudo, prefiro falar na igreja cinco palavras com o meu entendimento, para instruir outros, a falar dez mil palavras em outra língua.  20 Irmãos, não sejais meninos no juízo; na malícia, sim, sede crianças; quanto ao juízo, sede homens amadurecidos] Ao contrário da tendência atual, Paulo não se deslumbrava com o dom de línguas estranhas. De vez em quando, sou interpelado por alguns irmãos que protestam dizendo: "a mensagem que você pregou foi muito boa, mas teria sido muito melhor se você tivesse falado em línguas estranhas". Não existe lugar algum na Palavra de Deus que diz que a minha mensagem aumentará em poder se eu falar em línguas estranhas. Alguns pregadores, influenciados por essa falsa noção, acabam misturando pregação com línguas estranhas. Para cada palavra intelegível, são faladas dez palavras estranhas, e a consequência é que a Igreja acaba não entendendo nada do que foi dito. Em algumas igrejas, basta o pregador falar umas cinco palavras em línguas estranhas para que todos passem a acreditar que ele é o profeta de Deus, o enviado do céu. As igrejas não estão precisando de pregadores desse tipo. A situação atual é tão grave que as igrejas estão precisando ouvir as repreensões de Deus na língua materna; os cristãos estão precisando ouvir calados, com os olhos esbugalhados a mensagem radical do evangelho.

[Se, pois, toda a igreja se reunir no mesmo lugar, e todos se puserem a falar em outras línguas, no caso de entrarem indoutos ou incrédulos, não dirão, porventura, que estais loucos?] O que acontecia na igreja de Corinto devia ser algo semelhante ao que vimos hoje: uma verdadeira confusão, com pessoas correndo de um lado para outro da igreja, gritando, falando em línguas estranhas, pulando, fazendo caretas, etc. O incrédulo não tem razão em ficar escandalizado quando vê isso acontecendo em nossos cultos? Porventura ele não tem o direito de dizer que, ao invés de estar numa igreja, está em um hospício? É lamentável saber que, dois mil anos depois, isso ainda continua acontecendo.

E, se alguém falar língua estranha, faça-se isso por dois ou, quando muito, três, e por sua vez... (I Coríntios 14:27)

[faça-se isso por dois ou, quando muito, três] Isto é, dois ou, quando muito, três em cada reunião, em cada culto.

[e por sua vez] Separadamente, um após o outro. Eles não podiam falar em linguas, ao mesmo tempo.  É rotineiro, nos cultos pentecostais de hoje, a manifestação simultânea de línguas estranhas, envolvendo quase a totalidade da igreja, principalmente naqueles momentos de clímax espiritual, quando o Espírito Santo de Deus é sentido de uma maneira poderosa. Percebe-se por isso, que a regra desse versículo é muito pouco seguida, atualmente. Eu acho, particularmente, que o limite de três pessoas não seja um número absolutamente fixo. A grave situação de Corinto exigia essa medida limitadora.

Aceito que a manifestação simultânea da glossolalia em nossos cultos possa até acontecer, mas isso deve ocorrer sempre dentro do limite da racionalidade e por um tempo relativamente curto. Os crentes não precisam pular descontroladamente, quebrar bancos, contorcerem-se como endemoniados, etc. Passado o momento do ápice espiritual, todos devem parar de falar línguas estranhas em voz alta, até para garantir a continuidade normal do culto.

[...e haja intérprete.  Mas, não havendo intérprete, fique calado na igreja, falando consigo mesmo e com Deus.] Paulo ressalta, mais uma vez a necessidade da interpretação das línguas.


Autor: CRISTIANO SANTANA
Fonte:  Blog Cristiano Santana

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