domingo, 29 de julho de 2012

A Igreja Clama Por Melhores Pastores

[bompastor.jpg]O PROBLEMA

É possível que uma congregação inteira fique insatisfeita com o seu pastor, a ponto de desejar, ardentemente, a sua substituição? Essa pergunta, à primeira vista, parece ridícula e sem fundamento, isto porque, a priori, o pastor foi ungido pelo Senhor Jesus Cristo para o santo ministério e, consecutivamente, foi considerado digno da confiança do pastor-presidente que o designou para essa função. Dessa forma, a própria insatisfação, em si, seria considerada uma atitude reprovável; mais do que isso: tal atitude poderia ser a manifestação de crentes que sucumbiram às influências de Satanás, o grande semeador de contendas.

Há quem diga que, nos primódios do protestantismo no Brasil, a figura do pastor gozava de uma maior autoridade sobre o rebanho, que aceitava, sem contestação, a sua decisão. Os congregados orbitavam em torno do pastor como planetas regidos por um lei inquebrantável. Protesta-se que hoje a situação não é mais a mesma. Frequentemente o pastor tem de lidar com membros contenciosos, e até obreiros, que lhe resistem abertamente, desprezando completamente a sua superioridade eclesiástica.

Ainda que não abertamente, percebe-se que atualmente há um conflito em andamento em várias igrejas. De um lado os membros reivindicam o direito de participar das decisões da igreja, o direito de serem ouvidos. Há um forte clamor por uma igreja mais democrática, por uma administração mais participativa. Há cristãos que não querem mais se submeter passivamente a tudo que o pastor determina. Eles exigem sempre uma razão. Do outro lado, há os pastores, que não admitem perder terreno para os membros. Não abrem mão de terem sempre a palavra final e não aceitam serem contrariados. Sentem-se confortáveis em serem líderes autocráticos. Acham que o pastor que tenta agradar a maioria destrói a si mesmo; acham que ceder às crescentes exigências dos membros mina completamente a autoridade do pastor. Há muitas igrejas vivendo sob essa tensão que, às vezes, é quase insuportável.

É uma guerra fria, na qual, um tenta prevalecer sobre o outro. Quando insatifeitos, os membros torcem pela destituição do pastor. Esse último, por sua vez, sonha com o dia em que os contenciosos mudarão para outra congregação, deixando-o, assim, em paz.

E agora? Quem está com a razão?

Talvez a melhor forma de analisar esse conflito seja atingir as causas, não secundárias, mas primárias do seu surgimento, as quais, uma vez conhecidas, possibilitarão o apontamento de soluções mais eficazes. Realmente, é verdade que, quando se conhece a causa de uma doença, torna-se mais fácil achar a sua cura.

São dois os fatores preponderantes que colaboraram para o surgimento do abismo relacional entre os pastores e membros:

AS CAUSAS DO PROBLEMA

1) O advento da igreja pós-moderna.

2) O crescimento das igrejas

Quanto ao primeiro fator, deve ser dito, primeiramente, que não há dúvida quanto à honradez, à sinceridade e ao caráter ilibado de grande parte dos pastores que são designados como dirigentes de congregação por seus pastores-presidentes. São servos de Deus que têm dedicado suas vidas em prol do Evangelho. Quanto aos mais idosos, a Igreja do Senhor Jesus Cristo é mais do que grata pelo trabalho pioneiro, prestado por eles, há décadas atrás.

Entretanto, a sociedade pós-moderna globalizada, multicultural, secularizada, cética e pluralista tem exigido do pastor um aperfeiçoamento mais abrangente, em diversas áreas (espiritual, cultural, intelectual, psicológica, etc.)

O livro “O Pastor Pentecostal – Um mandato para o Séc. 21” (Edições CPAD) fala sobre a necessidade de lidar com mudanças: “Já não vivemos nos dias de antigamente, quando o pai trabalhava, a mãe ficava em casa, as crianças faziam suas lições de casa depois da escola e todos iam juntos à igreja no domingo. A era da informação mudou a maneira como as pessoas trabalham e vivem. O mundo de hoje não é como o de nossos pais. A época em que vivemos não é o que aprendemos em institutos bíblicos ou nos seminários.”

Continua o livro: “As mudanças têm afetado drasticamente a igreja. Em muitos casos achamos difícil enfrentar o fato de que as circunstâncias mudam. Muitas vezes, em nosso zelo de nos manter fiéis a uma mensagem imutável, não percebemos que estamos nos dirigindo a um mundo mutável. Pastores e igrejas de sucesso percebem que vivem em um mundo sujeito a mudanças e adaptam a mensagem imutável a esse mundo mutável. A influência da televisão levou ao mundo para as zonas rurais. Em igrejas pequenas, mais se exige de pastores e líderes de igrejas para tentarem igualar-se aos grandes ministérios paraeclesiásticos vistos na televisão nacional. Crianças que passam a semana na escola aprendendo em computadores e divertindo-se em jogos virtuais de computador já não ficam fascinadas com o flanelógrafo na aula da Escola Dominical. Ainda que o poder de nossa mensagem seja imutável, o meio de apresentar a mensagem tem de mudar. O desafio enfrentado pelos pastores da atualidade é como lidar pessoalmente com o andamento e o impacto das mudanças, como ajudar as pessoas a lidar com essas mudanças e como controlar as mudanças em nossas igrejas”

Há pastores que ainda estão presos ao passado. Insistem em aplicar filosofias administrativas, costumes e valores que já são, por demais obsoletos e que não têm mais nenhuma utilidade para a igreja. Não se trata aqui de dizer que os cristãos têm de arrancar os "marcos antigos" e substituí-los por outros, ou trocá-los de lugar. Certamente, existem  valores que são absolutos, imutáveis e eternos, inerentes à essência do Evangelho, mas existem outros que são relativos, fortemente influenciados pela cultura de uma época, como é o caso da antiga proibição de assistir televisão. Outros princípios como a necessidade de se evitar vestes indecorosas dentro da casa de Deus, certamente permanecerão.

Também há pastores, que não obstante serem da uma nova safra, também não estão sintonizados com a nova realidade. Eles têm um formação teológica, cultural e eclesiástica muito limitada. Muitos deles são lançados de pára-quedas nas congregações por seus pastores-presidentes, sem nenhum preparo prévio. A não ser por uma intervenção miraculosa da parte de Deus, uma igreja que receba tal obreiro está destinada ao sofrimento, dada a complexidade que envolve dirigir uma congregação.

Quanto ao segundo fator - o crescimento da igreja - os chamados "campos" ministeriais eram pequenos até algum tempo atrás. Logo começaram a crescer, multiplicando, quase que exponencialmente, as suas congregações. Hoje são ministérios imensos, alguns contando com centenas de congregações. A igreja, enfim se institucionalizou, assumindo aspecto praticamente corporativo. O resultado colateral desse espantoso crescimento foi a perda do controle sobre as ações do dirigente de congregação. O pastor-presidente passou a concentrar sua atenção em problemas cada vez mais complexos e gerais, envolvendo-se em decisões do chamado "alto escalão"; decisões predominantemente institucionais e de natureza financeira, arregimentando, também, para essa finalidade um grupo considerável de pastores que passaram a dedicar seus esforços à manutenção da máquina administrativa.

Como resultado, os crentes foram deixados à mercê do arbítrio do dirigente da congregação que, por não haver um acompanhamento mais efetivo de sua liderança, vê-se livre para imprimir seus próprios valores, às vezes contrários ao da igreja matriz. O resultado, geralmente, é o jugo, o sofrimento. Comumente, a tensão surge quando os membros percebem que o seu dirigente toma atitudes que não coadunam com a filosofia administrativa do pastor-presidente. Há situações como essas que perduram por longos anos, sem o conhecimento do pastor-presidente que não tem tempo para cuidar de detalhes. Os crentes são maltrados e desrespeitados. Quando chega a denúncia ao pastor-presidente, ele não dá crédito. Acha que as reclamações são apenas murmurações sem fundamento que não comprometem a reputação do seu subordinado. Não há dúvida de que o acompanhamento das atividades da congregação, pela diretoria da matriz, certamente iria coibir muitas práticas abusivas, perpetradas por alguns dirigentes. Mas ocorre o contrário: há líderes que praticamente não se importam com o que se passa na congregação.

CONCLUSÃO
 
A situação, acima exposta, deixa claro que quando o pastor-presidente negligencia a sua obrigação de garantir a formação e designação de pastores excelentes, quem sofre é o membro comum. O trabalho constante do pastor-presidente de proporcionar aperfeiçoamento aos seus pastores e de monitorar suas atividades, certamente reduziria em muito os conflitos que surgem nas congregações.

Vive-se, atualmente, uma situação há muito profetizada pelo filósofo cristão dinamarquês Kierkegaard, o qual, em sua época, lamentou sobre a forma pela qual a religião cristã de seu país violentava o indivíduo, transformando-o em um ser despersonalizado, na grande massa disforme de seres humanos, impedindo-o de reconhecer o valor da sua própria existência, como criatura singular. É exatamente isso o que muitas igrejas estão fazendo com muitos filhos de Deus, os quais, por incrível que pareça, sentem-se, muitas vezes, solitários dentro da Casa do Senhor, abandonados por aqueles há muitos dominados por um egoísmo perverso e que estão cegos para  as desgraças alheias.

As pessoas atualmente estão mais carentes do que nunca. Elas não querem ser apenas um número; elas querem ser um SER. Isso tudo foi causado pelo crescimento da igreja, mas ainda há tempo de reverter essa situação e adotar uma política que prime pela valorização da boa relação entre o pastor e seus membros. O pastor deve ser preparado para o membro e o membro para o pastor. O resultado, certamente, seria a valorização do pastor pelo membro e também, o reconhecimento pelo pastor, de que o membro não é apenas um estatística, mas alguém que merece todo o seu carinho e atenção.



Autor: CRISTIANO SANTANA
Adaptado do Blog Cristiano Santana

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